fonte: O Globo

Em 2017, 34, 7% dos municípios do país registraram uma epidemia ou endemia relacionadas ao saneamento básico, segundo o Suplemento de Saneamento da Pesquisa de Informações Básicas Municipais — Munic 2017 — do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento, que contempla aspectos gerais da gestão da política de saneamento básico, registrou que, nos últimos 12 meses anteriores à entrevista, 26, 9% de todos os municípios registraram epidemias ou endemias de dengue; 23, 1% de diarreia; 17, 2 de verminoses, entre outras.

Segundo o levantamento, o município do Rio não informou sobre epidemias ou endemias em 2017 relacionadas ao saneamento.

Proporção de municípios que afirmaram ter conhecimento sobre ocorrência de endemias ou epidemias de cada doença – 2017

A doença mais citada pelos municípios foi a dengue. Em 2017, 1.501 municípios reportaram ocorrência de endemias ou epidemias de dengue.

A dengue, assim como a zika e a chikungunya, são transmitidas pela picada do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada. Tais doenças estão, portanto, fortemente associadas aos serviços de saneamento. A oferta irregular de água, por exemplo, faz com que as pessoas a estoquem em reservatórios, que, muitas vezes, servem de local de reprodução dos mosquitos. O acúmulo de lixo nos domicílios e nas ruas, decorrente da coleta irregular, favorece, por sua vez, o acúmulo das águas das chuvas, também é um fator de risco.

— Esse resultado não é necessariamente por falta de saneamento. Talvez seja falta de aprimoramento do sistema — afirma Vânia Pacheco, gerente da Pesquisa de informações básicas municipais do IBGE. — Outra coisa que é preciso ressaltar é que não é só a gestão pública, existe uma parte do cidadão nisso. O município tem que prestar o serviço, mas a população também tem que fazer a sua parte.

O IBGE explica que considera-se endêmica uma doença que existe, constantemente, em determinado lugar, independentemente do número de indivíduos por ela atacados. Epidêmica, por sua vez, é uma doença que surge, rapidamente, em um lugar e acomete grande número de pessoas.

Melhora das estruturas diminui casos de doenças

O pesquisador da Fiocruz minas Léo Heller destaca que a situação do saneamento no Brasil está longe da ideal. Então, diante disso, é esperado que doenças associadas continuem a ocorrer. Mas, de acordo com ele, é preciso reforçar que não significa que tais doenças foram causadas exclusivamente por más condições de saneamento.

— É difícil afirmar afirmar que uma doença tenha acontecido por uma causa única, mas o quadro é compatível com o das condições de saneamento no país. A grande questão é: se melhoramos a condição de saneamento, a probabilidade de ocorrência dessas doenças cai muito — afirma ele, que acrescenta que o número de casos dessas doenças poderia ser maior. — Todas têm uma certa subonotificação, diarreira e verminose particularmente.

Léo ressalta ainda que a pesquisa do IBGE mostra uma “face do probelma”, que é ausência de planejamento, principalmente em municípios menores e das regiões Norte e Nordeste, mas aponta também para falhas no nível federal, que é quem financia essas políticas.